sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

comé que eu faço pra aprender a música da sua terra?

cultura em revista:  http://www.culturaemrevista.com.br/index/index.php


Uma vez, andava por uma cidadezinha perdida do Marrocos, em uma região de montanhas conhecida como Atlas. Visitava a família de um amigo, um músico marroquino. Ansiosa, perguntei-lhe sobre a melhor maneira de aprender a música daquela terra – tão exótica, tão inatingível. Com seu olhar tranquilo, me pediu pra sentir o cheiro das espécies no bazar, ouvir o sotaque do vendedor de chá, perceber as cores das roupas das pessoas ao meu redor, o gosto da comida... Ensinou-me que a música e a musicalidade de um povo se aprendem conhecendo os costumes desse povo, suas crenças, paixões, sua culinária, sua história.

Depois de alguns anos viajando pelo mundo, voltei para o Brasil para re-conhecer meu país. Voltei para a barroca cidade de Mariana, em Minas Gerais, para me re-conhecer, me re-conectar com minhas próprias origens e raízes. Voltei para aprender sobre a música de minha própria terra.


Com uma amiga italiana chamada Anna Stopanni, resolvemos, então, realizar um documentário que plasmasse em imagens e sons essa busca tão pessoal, mas também sócio-cultural. Quem seriam os músicos dessa terra? Por que tocavam? Quando tocavam? Como tocavam? Quem seriam os que tentariam preservar as antigas tradições musicais? Como se relacionariam novos e velhos músicos? Músicas profanas e sagradas? Popular e erudita? Profissional e amadora? O Poder da música quebraria qualquer tipo de barreira, seja social, racial ou de gênero? Seria a música a janela da alma de um povo?
 
Em um ritmo frenético, realizamos várias horas de filmagem e conseguimos coletar um considerável número de fotografias e relatos sobre o tema. O material era tanto que, no final das contas, não pudemos aproveitá-lo por completo no que veio a ser o vídeo editado e finalizado. 

Gerado de maneira totalmente independente, sem nenhum apoio ou patrocínio, o documentário foi pré-lançado no Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana, em 2009. Por dois anos, passou por uma fase de “engavetamento”, por falta de verba para sua prensagem e distribuição, quando a internet passou a ser seu único veículo de difusão.


Em 2011, cansada de tentar maneiras de conseguir patrocínio dos órgãos públicos para a prensagem de cópias do filme, passamos a copiá-lo e distribuí-lo de maneira independente pela Vira Saia Produções. Fazemos cópias caseiras do vídeo e de sua capa e vendemos pelas ruas da cidade às pessoas que se interessam por essa ideia e acreditam no poder da arte. Arte autoral. Arte pirata. Independente. E, assim, o documentário volta a cumprir sua missão: ser visto e ouvido. E, com ele, todos os personagens reais que compartilham sua história musical, que se confunde com sua própria vida e com a vida do meio em que vivem.

Para assistir o filme clique aqui.

[Musicista e amante das artes como um todo,
Mônica Elias tem uma enorme curiosidade sobre tudo o que é belo, inteligente, ecológico e ritualístico nesse planeta. Atua há mais de dois anos com o Grupo Vira Saia, como cantora e percussionista

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